segunda-feira, 30 de março de 2020

Chapter 1 A Carta





Capítulo 1 A Carta

Moss, Noruega. 2 anos antes.

"Oi, 
Desculpe a ocasião mas enfim. Queria que esta fosse uma carta de amor, mas julgando pelos fatos que ocorreram na minha vida pode até que essa possa ser. Bom, será triste. E sabemos todos que histórias de amor não são histórias se não tiverem um pouco de tristeza. E meus atos de desespero foram também atos de amor. Não quero com essa carta justificar minha partida. Mas por amor, também temos que deixar partir. Não queria deixar passar isso em branco, eu queria me despedir... Só me despedir. Desajei fazer isso pessoalmente, mas acredito que se assim fosse perderia a coragem de consumar o que com dor decidi ser o melhor. O amor de todos vocês me deu forças para suportar até o momento em que escrevo, e sei que é egoísmo meu tirar de vocês o que fiz de tudo para mostrar e aparecer. Mas estou no meu limite, e agora, por egoismo ou não, tenho que pôr fim em algumas coisas que me fazem desmoronar. E uma dessas coisas se direciona aos meus pais, e a eles peço perdão e digo que em breve estaremos juntos, em algum lugar. Enfim, um dos meus maiores medos era decepcionar as pessoas, mas vivendo como estou vejo que decepciono alguém muito importante, eu mesmo, e creio que todos entenderão minha escolha. Espero ter sido algo importante na vida de alguém e se isso for real minha vida já valeu o bastante. Peço perdão e desejo a todos terem o suficiente para não chegarem ao ponto em eu cheguei e, que se possível essa mensagem possa chegar até a última pessoa que ouvir o último acorde que toquei para que entendam que nenhuma prova de amor é em vão.

Até breve."

A caneta despencou dos dedos e meu rosto em lágrimas ficou imovel por algum tempo, relutante, consegui voltar a mim. Percebo que a noite tinha caído rapidamente. Olhei o relógio, ainda tinha tempo para me arrumar, nesse momento agradeci por ser homem. Já de banho tomado, tentei arrumar a confusão no meu rosto. Passo a máquina no 1 apenas para aparar a barba e vestindo a beca típica me olho no espelho, estou um pouco melhor que cedo, nada mal para meu último dia na terra. Roupa especial para uma noite especial Percebo que não pus um alimento na boca o dia todo, mas isso não fará diferença daqui há algumas horas. 

Tudo pronto para minha partida. Na porta de saída, pego as chaves na parede penduradas à minha esquerda, mas esqueço o celular na escrivaninha. Solto um suspiro e me reclamo de ter uma casa tão grade. Suspiro atravessando o cômodo ao encontro do móvel. Pego o celular e percebo a gaveta semiaberta. O brilho do revólver me encandeia e o retiro para observa-lo pensando que teria que ser hoje, não importava mais o que poderia acontecer. Nada mais poderia mudar o que passei nem me dar forças para continuar esta vida que não vale mais a pena viver, e se estivesse prometido a sofrer então que eu mesmo ponha fim nisso. Estou decidido que serão estas balas as últimas pílulas de consolo. Mas antes, meu último ato válido a ser feito. Uma lágrima caiu enquanto guarduei o algoz desarmado no bolso do paletó.

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